quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Associação Proteste: vinhos bons na taça e no bolso

ASSOCIAÇÃO PROTESTE preparou um teste especial para você escolher a bebida para a companhar a ceia de Natal. As escolhas certas têm preços a partir de R$ 13 são harmoniosas no sabor e no aroma. Publicado na Revista PROTESTE, EDIÇÃO Nº 109 - DEZ/11.

Se você ainda acredita que vinho bom tem que ser caro, precisa acompanhar nosso teste exclusivo com mais de 30 vinhos tintos nacionais, europeus e sul--americanos com preços acessíveis que não vão onerar seu orçamento de Natal. Tem escolha certa a partir de R$ 13 e fácil de encontrar nas grandes redes de supermercados. Acompanhe os resultados de nossas análises e escolha aquele que melhor se encaixa no seu bolso e gosto.
Começamos nosso teste conferindo se os rótulos das bebidas continham as informações obrigatórias, como lote, data de validade e graduação alcoólica, por exemplo. Os vinhos que trouxeram informações extras para o consumidor tiveram melhores notas.
A maior parte dos rótulos é completa, com informações adicionais importantes para o consumidor. Apenas a marca Casillero Del Diablo (Chile) não informa como o produto deve ser conservado. E como o vinho é uma bebida com prazo de validade indeterminado, é fundamental que o consumidor seja orientado sobre como conservá-lo corretamente para que tenha o consumo adequado da bebida. Não custa frisar que o ideal é manter o vinho em local fresco, seco, sem trepidações e ao abrigo da luz, preferencialmente na posição horizontal para que a rolha não resseque permitindo a entrada de ar na garrafa, o que pode oxidar a bebida.

Acidez afeta sabor e aroma

Principal elemento do vinho, o álcool tem forte in-fluência na qualidade, na conservação e no valor comercial da bebida. Em nosso teste, medimos o teor alcoólico real dos produtos. E nenhum dos vinhos testados apresentou diferença significativa entre o teor alcoólico declarado e o medido.
Ao lado do álcool, outro item importante na composição de um vinho é a sua acidez. Ela influencia no aroma, no sabor e na conservação. Em geral, tipos diferentes de ácidos são responsáveis pela acidez total dos vinhos, que por sua vez é formada pela acidez fixa e acidez volátil. Nesse quesito, todos os vinhos foram bem avaliados. A exceção foi o Finca Flichman  (Argentina), que apresentou acidez um pouco elevada e acabou sendo classificado como "fraco" nesse parâmetro.

Alguns aditivos garantem a conservação

Na sequência de análise, avaliamos a concentração de dióxido de enxofre, fundamental para a conservação do vinho. Por ser uma bebida que não se conserva e com o tempo se transforma em vinagre, é preciso adicionar compostos que ajudem a aumentar seu tempo de vida e, consequentemente, a manter o sabor.
Mas a dose de dióxido de enxofre adicionada deve ser bem calculada: em quantidades excessivas, o vinho adquire odor e sabor desagradáveis. Já em quantidade insuficiente, envinagra rapidamente. Em nosso teste, seguimos a legislação europeia, que é mais rigorosa a esse respeito, e nenhum dos vinhos testados ultrapassou o limite estabelecido.
A exceção é o Bolla (Itália), que ficou com pontuação fraca por apresentar dióxido de enxofre muito próximo do limite europeu. Avaliamos também a quantidade de ácido sórbico nas bebidas, aditivo que tem propriedade fungicida. Em doses muito baixas, esse ácido não apresenta propriedades antimicrobianas, limitando-se apenas a evitar a refermentação dos vinhos. Por isso, consideramos desnecessária sua utilização.
O resultado do teste revelou que apenas o vinho Marcus James (Brasil) possui ácido sórbico em sua composição, mas dentro do limite da legislação.
Nosso teste não acaba por aí. Submetemos os vinhos à análise de fermentação malolática. Ela é necessária nos vinhos tintos por proporcionar estabilidade biológica, diminuir a acidez e conferir maciez e equilíbrio, além de contribuir para a complexidade aromática da bebida. A fermentação malolática ainda auxilia a regular a qualidade das safras, diminuindo o excesso de acidez presente nos vinhos de safras de má qualidade.
Apenas o vinho argentino Nieto Senetiner apresentou fermentação malolática incompleta, o que, contudo, não influenciou na nota final da análise sensorial.
Por fim, verificamos a concentração de açúcar. É ela quem define a classificação do tipo de vinho: seco, meio seco e doce (ou suave). O Gato Negro (Chile) foi o único que apresentou discrepância entre o teor de açúcar medido e sua denominação. Esse vinho se denomina seco, mas possui concentração de 6,5 g/l de glicose, teor característico de vinho meio seco.
No geral, nosso teste não mostrou muitos problemas com os vinhos. A grande diferença ocorreu na análise sensorial feita por um painel de consumidores e outro de sommeliers E, quanto aos preços, concluímos que as adegas e importadoras cobram valores mais em conta do que os hipermercados e supermercados.

COMO FIZEMOS O TESTE

Levamos para o laboratório, 34 marcas de vinho nacionais, chilenos, espanhóis, portugueses, italianos e argentinos, para verificar qualidade e rotulagem.

ROTULAGEM
Verificamos se os rótulos traziam, além das informações obrigatórias, orientações adicionais, como modo de conservação e dicas de consumo.

ANÁLISE SENSORIAL
Um painel de consumidores e um painel de sommeliers provaram os vinhos e deram suas notas. Aos especialistas, coube a tarefa de buscar defeitos nos produtos. Para os consumidores, a bebida foi servida uma única vez, com temperatura em torno de 17oc. Foram oferecidos água mineral e biscoito simples para a limpeza do palato entre uma amostra e outra.

CONSUMIDORES E SOMMELIERS TÊM PERCEPÇÕES DIFERENTES

A avaliação que se faz de um vinho é, sem dúvida, subjetiva. E isso ficou evidente no resultado de nossa análise sensorial.  Enquanto os especialistas buscavam por defeitos nas bebidas, os consumidores avaliaram a aceitação quanto ao aroma e sabor.
Alguns vinhos foram bem aceitos pelos sommeliers e nem tanto pelos consumidores, o que não é estranho de acontecer. Enquadram-se nesse caso: Morandé Pionero, Dal Pizzol, Concha Y Toro, Gato Negro, Porca de Murça, Periquita e Marcus James Reserva Especial.
Em sentido contrário, o único vinho que agradou ao paladar dos consumidores, mas não se saiu muito bem com os especialistas foi o chileno Luis Felipe Edwards.
Também tiveram aqueles que agradaram aos dois, consumidores e sommeliers, entre eles: Grão Vasco, Santa Helena Reservado, Grandjó, Latitud 33, Santa Carolina, Paulo Laureano, Aurora Varietal e Nieto Senetiner. Todos eles receberam conceitos muito bom ou bom de ambos. Vale registrar que, durante a análise, alguns sommeliers perceberam um odor desagradável no Salton Classic (Brasil), que pode ser causado por uma levedura presente na casca da uva.
Na opinião dos especialistas, o melhor vinho foi o Nieto Senetiner, considerado equilibrado, com sabor e aroma intensos e persistentes.